A expansão dos institutos federais em regiões remotas do Brasil tem sido um instrumento de mudança na vida de muitos jovens, cujas trajetórias se transformam por meio da educação. Nesta terça-feira, 8, o Campus Amajari do Instituto Federal de Roraima (CAM/IFRR), localizado no norte do estado, realiza a formatura de 39 estudantes dos cursos técnicos integrados ao ensino médio. Desses, 25 recebem o diploma de técnico em agropecuária e 14 o de técnico em Aquicultura.
À primeira vista, trata-se de mais uma cerimônia de conclusão de curso. No entanto, entre os formandos, sete são indígenas da etnia iecuana, o que revela a força transformadora da educação pública. Um deles é Adriano Sadamenawa Rodrigues, de 23 anos, da comunidade Auaris, localizada no extremo noroeste do território Ianomâmi, onde vivem as etnias iecuana e sanumá.
Adriano, ainda em processo de adaptação ao idioma português, concluiu o Técnico em Aquicultura integrado ao ensino médio e morou no alojamento do campus durante os três anos do curso. “Quando eu cheguei aqui no Instituto Federal de Roraima, me sentia sozinho, longe da minha casa, da minha família, e quase desisti dos estudos. Mesmo com saudade, estudando de manhã e de tarde, e cansado, me acostumei e continuei a estudar”, relatou.
Há três anos sem ver a família, o estudante planeja retornar à comunidade após a formatura, mas já traça novos objetivos. “Quero voltar para ver minha mãe. Estou feliz e impressionado por ter ficado três anos no instituto. Mas quero fazer vestibular. Pretendo fazer o curso de Licenciatura em Ciências Sociais e depois voltar para minha comunidade. Só posso agradecer aos professores que me ajudaram e ficaram do meu lado nesses três anos”, contou.
O sonho de cursar o ensino superior já se tornou realidade para outro formando indígena. Wagner Soares Pacheco, de 18 anos, da Comunidade Kuratanha, no Município do Amajari, foi aprovado no vestibular da Universidade Federal de Roraima para o curso Engenharia Elétrica. Assim como Adriano, ele destaca a transformação vivida no IFRR/CAM. “No início foi um grande desafio me adaptar à rotina, ao ambiente novo e à distância da família, mas ao longo do tempo fui criando laços, aprendendo muito e crescendo tanto pessoal quanto profissionalmente. Fiz grandes amizades e me orgulho de tudo que conquistei”, disse.
Ele também relembra os desafios enfrentados. “No início tive muitas dificuldades, como a saudade de casa, a adaptação ao ritmo das aulas e algumas matérias mais complicadas, que me desafiaram bastante. Mas, com o apoio dos colegas, professores e da equipe pedagógica, consegui superar e seguir em frente”, afirmou.
Ao falar da formatura, Wagner expressa seu sentimento com clareza. “É uma mistura de orgulho, gratidão e emoção. Foram três anos de muita luta e aprendizado. Formar-me como técnico representa uma conquista não só minha, mas de toda a minha família e da minha comunidade. Agora quero me dedicar à universidade, concluir minha graduação e futuramente voltar para minha comunidade para aplicar meus conhecimentos e contribuir para o desenvolvimento sustentável da região. Também tenho vontade de continuar estudando e fazer uma pós-graduação”, confessou.
Para o diretor-geral do CAM, Rodrigo Barros, os sete estudantes indígenas representam resiliência, determinação e a força da educação como ferramenta de transformação. “A educação, mais do que um direito, é uma ponte que liga sonhos à realidade. Para esses estudantes, ela significou vencer a distância da família, adaptar-se a um novo contexto cultural, enfrentar barreiras linguísticas e, ainda assim, persistir com bravura. Cada diploma conquistado nos cursos técnicos em Aquicultura e Agropecuária não é apenas uma certificação, mas a prova de que, quando há oportunidade e apoio, não há obstáculo que não possa ser superado”, afirmou.
Ainda segundo Barros, acompanhar essas trajetórias é motivo de grande satisfação. “Os formandos despertaram em todos nós, servidores, o que há de mais nobre: a humildade de aprender, o respeito às diferenças e a coragem de lutar por um futuro melhor. Suas histórias inspiram e reforçam o papel vital da educação pública, inclusiva e de qualidade. Que continuem sendo exemplos de superação, levando adiante os valores que cultivaram aqui e contribuindo para o desenvolvimento de suas comunidades e do nosso país!”, concluiu.
A cerimônia de formatura será realizada na área de convivência do Campus Amajari, com início às 17 horas. O campus está localizado na Rodovia Antonino Menezes da Silva, Km 3, Vila Brasil (sede do Município do Amajari).
Bruna Castelo Branco
Jonalista
Ascom/Reitoria
8/7/25