O Campus Boa Vista do Instituto Federal de Roraima (CBV/IFRR), por meio do Programa Ação Saberes Indígenas na Escola, desenvolvido em colaboração com a Pró-Reitoria de Extensão (Proex), realiza, na tarde desta quarta-feira, 6, na sala de reuniões do CBV, o encerramento da edição 2023 do programa.
Como marco da finalização das atividades, os professores participantes elaboraram o material didático nas línguas indígenas ninan e wai-wai.
Participaram da formação 77 professores alfabetizadores lotados em escolas públicas indígenas e 8 professores orientadores falantes das línguas ninan e wai-wai, responsáveis pela formação dos professores nas suas comunidades. A formação contou com indígenas de comunidades das regiões Uxiú, Alto Mucajaí, Baixo Mucajaí, Uraricoera, Apiaú e Pewaú.
A supervisora do ação Saberes Indígenas, professora Marilene Alves Fernandes, esclarece que o IFRR tem contribuído de maneira significativa para a formação continuada de professores indígenas falantes das línguas ninan e wai-wai que atuam nas séries iniciais do ensino fundamental. “Os livros produzidos pelos professores indígenas têm como objetivo subsidiar a reelaboração dos currículos e a redefinição de metodologias com foco no letramento e numeramento, atendendo às necessidades das escolas indígenas com materiais didáticos e paradidáticos próprios, com base na realidade sociolinguística dos povos originários”, disse.

Atener Ambrósio da Silva, da etnia wapixana, é uma das professoras orientadoras. Ela conta que foi um trabalho de muito esforço e que hoje todos estão visualizando o belíssimo resultado. “Foi muito gratificante, pois trabalhamos de maneira coletiva, com líderes indígenas de várias regiões. Para a elaboração dos materiais, foram levados em consideração vários aspectos importantes, como a cultura, a arte, a experiência e os saberes desses povos, que foram os protagonistas e que se viram representados. Acredito que, por isso, se esforçaram bastante para participar da formação. Muitos, mesmo morando em locais de difícil acesso, não mediram esforços para se fazer presentes e contribuir para a elaboração de um material que vai servir não somente para os professores, mas principalmente para os alunos”, explicou.
Eliseu Xirixana Yanomami relata que inicialmente foi um grande desafio, mas que, no decorrer da formação, os cursistas perceberam que seria possível fazer um bom trabalho. “No começo, achamos um pouco difícil, mas, durante o curso, quando os professores orientadores começaram a explicar como seria, nós, cursistas, começamos a fazer, a colocar nossas ideias no papel. Daí, a nossa mente se abriu, e o trabalho começou a fluir. Na minha opinião, isso vai ajudar muito na aprendizagem dos alunos nas escolas indígenas que falam as línguas ninan e wai-wai”, declarou.

Saberes indígenas – A ação tem como objetivo proporcionar a formação continuada de professores indígenas que atuam especialmente nos anos iniciais do ensino fundamental. Ela se baseia nos princípios da organização comunitária, do multilinguismo e da interculturalidade, que caracterizam as especificidades da educação escolar indígena, buscando proporcionar subsídios para a reelaboração de currículos e a redefinição de metodologias por meio dos processos de letramento e numeramento em escolas indígenas.
Além disso, a ação visa à elaboração de materiais didáticos e paradidáticos nas línguas dos povos originários conforme a realidade sociolinguística dos professores indígenas.

O projeto conta com fomento do Ministério da Educação (MEC), por meio da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi), e com apoio pedagógico e logístico das secretarias estaduais de educação.
O material didático produzido ainda está na fase de revisão pelos próprios indígenas, que têm o apoio da equipe formadora do Saberes Indígenas. Tão logo esse trabalho seja concluído, o material será encaminhado para impressão e distribuição.